A história da Casa Jurema se mistura à história do Samba da Jurema. Podemos até dizer que seria aquela corriqueira pergunta do “quem veio primeiro: o ovo ou galinha?”. Nós também não temos a resposta correta, apesar das muitas teorias sobre o tema. A verdade é que desde sempre existiu o desejo de continuar o legado da Aparecidinha e seus ensinamentos de caridade, que foram passados para cada filho consanguíneo, cada filho de fé, cada amigo, e foi dessa maneira que a corrente da solidariedade se formou.
A Casa Jurema é uma associação civil de direito privado, sem fins lucrativos, sem distinção de cor, sexo, nacionalidade, raça, profissão, credo religioso ou político, com caráter filantrópico, beneficente, social e cultural, devidamente registrada e documentada. Ela é o braço fazedor de cultura da Comunidade Omariô de Jurema, fundada em 1970. Na Casa Jurema são oferecidas aulas de reforço escolar e musicalização infantil às crianças do bairro Santa Clara e adjacências, entre 7 e 12 anos, e que estão devidamente matriculadas na escola. As aulas ainda acontecem na varanda da comunidade, mas sonhamos com o nosso container social, que será um espaço preparado exclusivamente para receber essas crianças, oferecendo atividades que proponham o desenvolvimento pessoal, preparando-as para um futuro pensante. Entendemos e acreditamos que só a educação pode mudar as perspectivas de um futuro melhor. Queremos trabalhar o lado bom das pessoas e não usar suas dificuldades como bandeira. Nosso principal objetivo é desenvolver a capacidade dessas crianças, no que elas sabem fazer de melhor. Não vamos trabalhar os problemas e sim, soluções.
Mas tudo realmente tomou forma com a criação do evento beneficente Samba da Jurema, que teve sua primeira edição no dia 11 de março de 2018 e foi realizada no Bar do Natinho, no bairro São Luiz, em Barra Mansa-RJ, estabelecimento a pouco menos de 3km da Comunidade Omariô de Jurema, localizado no bairro Santa Clara, também em Barra Mansa-RJ. A ideia surgiu da necessidade de angariar fundos para custear despesas como luz, água, IPTU e a manutenção do espaço físico da comunidade, afinal, as contas vencem para o Omariô de Jurema, da mesma maneira que vencem para todas as Igrejas e Templos.
O Samba da Jurema, na teoria, não passa de um evento - como outro qualquer - que toca samba com feijoada. Porém, o evento solidário vai muito além. Na prática, ele ganhou força por ser um encontro agregador, que serviu para desmistificar tabus, unir classes, dar voz ao povo negro, abrir espaço para artistas independentes e dividir todas essas conquistas com instituições e ongs que trabalham em favor do outro.
E foi após as primeiras edições do Samba da Jurema que nasceu o projeto Casa Jurema, que ainda há de ser o primeiro container social do Sul Fluminense. O crescimento do Samba da Jurema motivou os voluntários do evento a compreenderem que seria possível fazer mais, não só pela nossa casa, mas por toda a comunidade na qual estamos inseridos.
As histórias caminham juntas. Por isso é impossível falar da Casa Jurema, sem citar o evento Samba da Jurema, que foi idealizado exclusivamente para ser um evento beneficente e ao longo de 13 edições já recebeu quase 30 mil pessoas e arrecadou aproximadamente 10 toneladas de alimentos não perecíveis, além de inúmeros brinquedos, roupas e agasalhos. O evento é feito exclusivamente por voluntários e com 100% da arrecadação para a causa.
Na realização do Samba da Jurema cedemos espaços a outras instituições, para que façam suas arrecadações e possam dar andamento aos seus projetos. Em todas as edições do evento estiveram presentes a Escola Quilombola de Santana Irmã Elizabeth Alves, o SOS Barra Mansa, a APAE Volta Redonda e a Tenda Espírita Pai Cambinda, que, com os valores arrecadados durante o samba, puderam impulsionar suas atividades. Também abrimos espaço para mais de 30 artesãos e artistas independentes, que durante o evento podem expor seus trabalhos e comercializar sua arte. Muitos desses artistas são mulheres, negras e provedoras da família.
Por todos os feitos, em 22 de agosto de 2019, a Câmara Municipal de Volta Redonda concedeu homenagem ao evento Samba da Jurema, por sua dedicação ao trabalho voltado para a expansão cultural, incentivando a disseminação das práticas do folclore regional. No dia 26 de setembro do mesmo ano ganhou o Prêmio Destaque Vip - Categoria Evento, promovido pelo jornalista Fábio Soares. Em fevereiro de 2020, pelo voto popular, recebeu o Prêmio Olho Vivo, realizado pelo também jornalista Cláudio Alcântara, como Melhor Evento de Samba.
Do Samba da Jurema nasceu também o Juremeiros, que reúne um grande time de talentos do samba e desde a primeira edição do Samba da Jurema, ganham notoriedade a cada apresentação. O evento solidário serviu de palco para enaltecer o talento desses músicos que atuam no segmento há anos. Com menos de um ano de formação, o Juremeiros recebeu o Troféu Melhores do Ano como grupo revelação 2018, promovido pelo apresentador da Band, Taí Braz; no mesmo ano ganhou o troféu na categoria música, no II Prêmio Dandara e Zumbi dos Palmares, uma condecoração que dá o reconhecimento aos negros e negras do município de Volta Redonda e região que se destacaram no ano; em 2023 recebeu homenagem realizada pela Secretaria de Cultura de Volta Redonda no Dia Nacional do Samba, comemorado em 2 de dezembro; e recebeu do jornalista Cláudio Alcântara, o Prêmio Olho Vivo de melhor EP lançado em 2023. O grupo foi a atração da live promovida pela TV Rio Sul - a primeira live realizada por uma afiliada da Rede Globo - com transmissão ao vivo para mais de um milhão de pessoas na tv aberta, além dos portais G1 e GShow. Também dividiram palco com Marquinhos Sathan, Leci Brandão e Samba de Caboclo. Ao todo, ao longo dos anos, já levaram mais de 200 mil pessoas aos seus shows.
A Casa Jurema, apesar de legalizada, ainda não possui sede. A previsão de início da obra para instalação do container era março de 2020, mas por causa da pandemia, precisou ser adiada. Não tínhamos ideia de que a pandemia duraria tanto tempo e em meio a tanto medo, mas principalmente pelo respeito à vida, não pudemos voltar com o evento, principal mantenedor desse sonho. Os valores arrecadados foram aplicados na continuidade da assistência às pessoas em situação de vulnerabilidade que, durante e após a pandemia, ficaram ainda mais vulneráveis.
Com a retomada dos eventos pós pandemia, fizemos apenas 4 edições: 10ª edição em 2021, no Hotel-escola Bela Vista, em Volta Redonda-RJ; 11ª edição em 2022, na Cidade de Campo, também em Volta Redonda-RJ, sendo esta edição contemplada no edital Povos Tradicionais Presentes RJ, promovido pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado, que teve como principal objetivo fomentar a manutenção da cultura de Povos e Comunidades Tradicionais, assim como mobilizar e aplicar recursos para a valorização e a preservação da memória, da ancestralidade e do patrimônio cultural fluminense, de acordo com o Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura, constantes na Lei nº 7.035/2015; e, 12ª e 13ª edição, em 2023, na Unidade Barra Mansa do Sest/Senat. Aos poucos estamos ganhando fôlego para continuar o projeto de ter o primeiro container social. Desistir nunca será uma opção.
O Samba da Jurema tem o compromisso de contribuir com a preservação da tradição do samba em Volta Redonda e em toda a Região Sul Fluminense, retomando a tradição da prática da espontaneidade e do improviso, formas tradicionais de fazer samba de raiz, partido-alto e o samba de terreiro. Incentivando, apoiando e promovendo ações de valorização das comunidades e sua cultura, respeitando a velha-guarda, principais detentores da tradição e dos saberes.
O nosso sonho tem forma e, embora a Casa Jurema não estivesse nos planos iniciais, ela se tornou o principal motivo de existirmos. Acreditamos que tudo isso só acontece porque primeiro levantamos a bandeira do amor e da alegria, e com isso nasceu uma nova forma de transformar as pessoas: a Casa Jurema.