Maria Aparecida de Freitas nasceu em 26 de agosto de 1931, na cidade de Cruzeiro, interior de São Paulo, mas se mudou com a família para Barra Mansa, interior do Rio de Janeiro, aos 5 anos de idade. Aparecidinha, como era conhecida, foi uma mulher muito católica e da irmandade Filhas de Maria. Ela se casou em 1950 com Geraldo de Freitas, homem branco, que iniciou sua vida profissional como garçom e conseguiu se tornar um empresário, dono de restaurantes na cidade de Barra Mansa – RJ que atendiam viajantes em rodovias do estado do Rio de Janeiro e Minas Gerais. O casal teve 6 filhos: Rogério (natimorto), Tania (falecida aos 3 meses de idade), Diana Mara (1954), Telma Paulina (1956 - in memoriam), Patrícia Cristina (1958) e André Luís (1960 - in memoriam).
Maria Aparecida, mulher negra, teve suas primeiras manifestações mediúnicas em 14 de dezembro de 1955, quando estava grávida de sua terceira filha. Na época, foi levada ao Centro Espírita Xangô Agodô, dirigido por Dona Mariinha, onde recebeu orientações espirituais e passou a frequentar a partir de então. Naquele momento, a trajetória de vida de Maria Aparecida ganhou um novo e mais importante capítulo, pois as vidas familiar, profissional, social e religiosa estariam entrelaçadas. Todos os seus dias, daquela data em diante, foram dedicados à religião e à casa religiosa que frequentava. Maria Aparecida logo se destacou nos trabalhos do Centro Espírita, colaborando com o bom andamento da casa e realizando muitos trabalhos de caridade.
Dona Aparecidinha realizava atendimentos a partir da manifestação mediúnica da Cabocla Jurema, uma entidade que revive as memórias dos povos originários. Através dessa entidade, cuidava de muitas pessoas. E foi a Cabocla Jurema quem ganhou o terreno para que pudesse ter sua própria casa e a doação foi feita pelo casal André e Maria Luiza. Maria Aparecida deixou a Umbanda e ingressou no Candomblé, recebendo a dijina de Iraê Jinkayá, e após 15 anos dedicados ao Xangô Agodô e com as novas terras da Cabocla Jurema, entendeu que era hora de ter o seu espaço de fé. Em um único cômodo de madeira, localizado à Rua 10, do bairro Santa Clara, em Barra Mansa, nasceu o Omariô de Jurema, com fundação em 29 de julho de 1970.
A construção do terreiro ocorreu graças ao esforço pessoal de Dona Maria Aparecida, já que empregava parte de seu salário na infraestrutura do espaço, como a transformação de cômodos de tábua para uma construção de alvenaria, construção de novas dependências, entre outras reformas e ampliações. Seu empenho pessoal também promoveu muitas modificações na infraestrutura da rua, trazendo melhorias aos poucos moradores do local naquela época.
Maria Aparecida de Freitas era muito amiga do Sr. Marcelo Fonseca Drable, um dos mais populares prefeitos de Barra Mansa. Ela dizia que não gostava de se envolver com política, mas era “emedebista” e se dizia “Marcelista”, ou seja, votava no Marcelo Drable ou em quem ele apoiasse. Os políticos sempre prestigiaram suas festas e sessões. A popularidade de Mam’etu Iraê Jinkayá era muito grande e o mundo afrorreligioso era bem aceito pela sociedade barra-mansense.
A Comunidade Omariô de Jurema ganhou corpo e se expandiu em número de fiéis, devido à simpatia e ações de benfeitorias aos mais necessitados, realizadas por ela e suas entidades espirituais. Mam’etu Iraê Jinkayá tornou-se uma líder carismática, pelo seu conhecimento, modo de agir, pensar, sentir e imaginar. Ela realizava inúmeras campanhas de doações de alimentos a famílias carentes ou resgate de homens e mulheres em situação de risco, social ou material, por meio da orientação espiritual.
(entrevista realizada com Luiz Carlos Cândido, Kalumbajé, em 10/01/2014)
Em 1975, as três filhas de Mam’etu Iraê Jinkayá foram iniciadas no candomblé, por Mam’etu Liceuy (in memóriam), de Ilhéus-BA, da matriz Tumbenci, que veio exclusivamente para realizar essa iniciação, tornando-se mãe de santo das três moças. Diana Mara recebeu a dijina de Katulajunsun, Telma Paulina a dijina de Mazakaya (in memoriam) e Patrícia Cristina recebeu a dijina de Sia Vanju. As três passaram a ter um papel determinante no funcionamento e no desenvolvimento da Comunidade Omariô de Jurema e juntas começaram a escrever um novo capítulo dessa história. Filhos e netos de Maria Aparecida cresceram e foram educados no ambiente afrorreligioso. Em 1996, Mam’etu Iraê Jinkayá, a querida e conhecida Aparecidinha, nos deixou, mas seu legado não acabou e segue pelas mãos de Mam’etu Sia Vanju.
Em 2019, a Comunidade Omariô de Jurema foi homenageada por seu legado, recebendo o Prêmio Dandara e Zumbi, que é uma condecoração que dá o reconhecimento aos negros e negras do município de Volta Redonda e região que se destacam por suas realizações. O Prêmio Dandara, categoria especial, Preservação da Memória Ancestral, foi concedido à Maria Aparecida de Freitas - Mam’etu Iraê Jinkayá.
Leia mais no artigo escrito pela Mestre Fabiola Thomé, Kota Sambamukuê
(entrevista realizada com Patrícia Cristina de Freitas, Mam’etu Siá Vanju, em 30/07/2013)