Mam’etu Iraê Jinkayá partiu aos 65 anos, deixando órfã não só a família consanguínea, mas também toda a sua família religiosa. Após um longo período de luto em sua casa espiritual, e somente depois das orientações vindas de Ifá, através do jogo de búzios, assumiu como Mam’etu de Nkisi (Ialorixá, Iyá, mãe de santo, mãe de terreiro, sacerdotisa do terreiro) sua quinta filha, Patrícia Cristina de Freitas, Sia Vanju, que conduz os trabalhos à frente da Comunidade Omariô de Jurema até a presente data.
Nascida em outubro de 1958, na cidade de Barra Mansa-RJ, é filha de Maria Aparecida de Freitas e Geraldo de Freitas. Estudou na Escola Municipal Professor Vieira da Silva, seguindo para o Colégio Estadual Baldomero Barbará; do 2º ao 4º ano frequentou a Escola normal Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, em Andrelândia/MG, e do 5º ano em diante, voltou a Barra Mansa e se dedicou aos estudos no Colégio Estadual Baldomero Barbará.
Mam’etu Sia Vanju foi Iniciada em 1975, no “barco das três”, por Mam’etu Liceuy, do Ilê Axé Oxossi Airá, localizado no bairro Malhado, na cidade de Ilhéus, Estado da Bahia. Liceuy, também conhecida como Mãe Toinha, veio exclusivamente para realizar essa iniciação, tornando-se então, a mãe de santo das irmãs Diana, Telma e Patrícia, que ganharam o nome ancestral de Katulajunsun (Dofono/Rianga), Mazakaya (Dofonitinho/Kayadi) e Sia Vanju (Fomo/Katatu), em 4 de outubro do mesmo ano. O barco foi cuidado pela kota criadeira Mboalé, Tata Kambono Odénirê e a kota Maganza Sideloyá.
Em 1977 se casou com José Geraldo Dias (Tata Kambono confirmado em 1986, recebendo a dijina de Ijibenã) e com ele teve três filhos: André Luiz, nascido em janeiro de 1978, que se confirmou Tata kambono em 2001, recebendo a dijina de Amunanji; Gabriel, nascido em janeiro de 1980, confirmando Tata Kambono em 1998, recebendo o nome ancestral de Kisanje; e Clarissa, nascida em setembro de 1981, que se confirma kota em 2003 e recebe a dijina de Kayanibô. Após o nascimento de sua caçula, Mam’etu Sia Vanju se separou de José Geraldo.
A muzenza Sia Vanju cumpriu seus ritos de passagens de 1 e 3 anos com a kota Maganza (e criadeira) Mboalé e o Tata Kambono Odénirê, já que ambos estavam morando em Barra Mansa desde a sua feitura e eram as pessoas de confiança de Mam’etu Liceuy.
Em 1988, após 13 anos de iniciada, ela cumpriu sua obrigação de 7 anos com Mam’etu Iraê Jinkayá e o mesmo fez com a obrigação de 14 anos. Em outubro de 1997, Mam’etu Sia Vanju, após o apontamento do jogo de búzios e antes da reabertura da casa pós-luto, cumpriu sua obrigação de 21 anos com Iyá Omindarewá, a francesa Gisele Cossard, que era a dirigente religiosa do Ilê Axé Atará Magbá, localizado em Santa Cruz da Serra, na cidade de Duque de Caxias/RJ.
Em 1998, após 2 anos da partida de Mam’etu Iraê Jinkayá, Mam’etu Sia Vanju assumiu definitivamente a cadeira e o lugar de líder religiosa do Omariô de Jurema, mantendo unida a comunidade e lutando pela salvaguarda da memória, da ancestralidade e das tradições do povo de terreiro e patrimônio cultural fluminense.
Ao longo dos anos, a família religiosa Omariô de Jurema foi se desenvolvendo e hoje possui aproximadamente 200 filhos de santos, que ultrapassam o domínio local, estendendo-se entre Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
A trajetória de Mam’etu Sia Vanju é marcada por felizes encontros. Em 2014, conheceu Tat’etu Sajemi ia Lemba, dirigente da Inzo Lemba Bojinã Junsá, localizada em Brás de Pina, na cidade do Rio de Janeiro-RJ. Após a consulta ao jogo de búzios, ela entendeu e compreendeu que daquela data em diante ele seria a pessoa que passaria a cuidá-la e orientá-la espiritualmente. Mam’etu Sia Vanju mais uma vez pediu a benção à Mam’etu Liceuy, que sempre se manteve em Ilhéus/BA, a 1.380 km de distância de Barra Mansa-RJ. Sua iniciadora entendeu a necessidade e deu a permissão para os cuidados de Tat’etu Sajemi, que a partir de então tornou-se o sacerdote responsável por zelar por seu mutuê/ori.
Em 2018, Mam’etu Sia Vanju recebeu homenagem por sua contribuição à resistência religiosa e à liberdade cultural do povo do axé no 1º Seminário Interestadual de Cultura Bantu-brasileira, que aconteceu no Rio de Janeiro. No mesmo ano, Sia Vanju, em nome da Comunidade Omariô de Jurema, recebeu o Prêmio Melhores do Ano na categoria Melhor Projeto Cidadão - em virtude do evento beneficente Samba da Jurema -, realizado pelo apresentador da Band, Taí Braz.
Em 2019, representou a Comunidade Omariô de Jurema, sendo homenageada por seu legado no Prêmio Dandara e Zumbi, que é uma condecoração que dá o reconhecimento aos negros e negras do município de Volta Redonda e região que se destacam por suas realizações. O Prêmio Dandara, categoria especial Preservação da Memória Ancestral, foi concedido à Maria Aparecida de Freitas - Mam’etu Iraê Jinkayá. Em 2013, Mam’etu Sia Vanju recebeu o Prêmio Griô - Casas de Matriz Africana, com a maior nota, pela proteção e fomento à transmissão dos saberes e fazeres de tradição oral, na cidade de Barra Mansa/BM, realizado pela Fundação Cultura Barra Mansa, Lei Complementar nº78 de 17/04/2018, considerando a Lei Complementar 195/2022 e Decreto 11525/2023.
A vida de Patrícia Freitas tem uma longa história relacionada com a fé. E toda essa relação fez com que ela assumisse mais um compromisso: o de ser a dirigente espiritual da Tenda Espírita Pai Cambinda. Após a morte de Omir Tomé, em 2012, ela recebeu o chamado da espiritualidade e aceitou a missão, que cumpre rigorosamente desde então. A Tenda Espírita Pai Cambinda foi fundada em 1950 e institucionalizada em 8 de junho de 1956, também em Barra Mansa-RJ.
Entre os muitos bordões de Mam’etu Sia Vanju, o “acho que a mãe tá feliz” está no ranking dos mais utilizados e certamente é o que mais faz sentido, pois a Comunidade Omariô de Jurema, mesmo com o passar dos anos, não perdeu sua essência e, além de um espaço de culto, continuou a ser um espaço de acolhimentos, desenvolvimento humano, promoção de cultura e educação.
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